quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Carta a Diogneto



Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
 
Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio.
 
Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, mesmo não tendo recebido dela nenhuma ofensa, porque a alma a impede de gozar dos prazeres mundanos; embora não tenha recebido injustiça por parte dos cristãos, o mundo os odeia, porque eles se opõem aos seus prazeres desordenados. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; os cristãos também amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; os cristãos estão no mundo, como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em uma tenda mortal; os cristãos também habitam, como estrangeiros, em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada no comer e no beber, a alma se aprimora; também os cristãos, maltratados, se multiplicam mais a cada dia. Esta é a posição que Deus lhes determinou; e a eles não é lícito rejeitá-la.



Esta carta (aqui apenas parte e traduzida do grego original), foi escrita cerca do ano 120. Desconhece-se o seu autor, mas sabe-se que foi em resposta a Diogneto, um pagão culto que procurava saber quem eram os cristãos, esses que desprezavam todos os outros deuses, que chamavam a atenção pela força e coragem dos seus seguidores e pelo amor intenso ao seu Deus e uns aos outros.


Para os estudiosos é a joia mais preciosa da literatura cristã primitiva

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A Alimentação na Idade Média



De uma maneira geral, a alimentação medieva era pobre, se comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase rudimentar e as conquistas da cozinha romana tinham-se perdido.
As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. Jantava-se, nos fins do século XIV, entre as dez e as onze horas da manhã. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde.
O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Para os menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas.
A base da alimentação era a carne. Ao lado das carnes de matadouro ou carnes gordas - vaca, porco, carneiro, cabrito - consumia-se largamente caça e criação.
A criação não variava muito da de hoje: galinhas, patos, gansos, pombos, faisões, pavões, rolas, coelhos. Não existia ainda o perú que só veio para a Europa depois do descobrimento da América..
Fabricavam-se também enchidos vários, como chouriços e linguiça.
A forma mais frequente de cozinhar a carne era assá-la no espeto (assado). Mas servia-se também carne cozida (cozido), carne picada (desfeito) e carne estufada (estufado).
O peixe situava-se também na base da alimentação , especialmente entre as classes menos abastadas, e durante os dias de jejum estipulados pela Igreja.
Um dos peixes mais consumidos pelos portugueses na Idade Média, parece ter sido a pescada (peixota). Sardinha, congros, sáveis, salmonetes e lampreias viam-se também com frequência nas mesas de todas as classe sociais. Também se comia carne de baleia e de toninha, bem como mariscos e crustáceos.
Ao lado do peixe fresco, a Idade Média fez grande uso de peixe seco salgado e defumado.
Não eram especialmente apreciadas as hortaliças e os legumes, pelo menos entre as classe superiores. O povo, esse fazia basto uso das couves, feijões e favas. As favas, assim como as ervilhas, as lentilhas, o grão de bico tinham igualmente significado como sucedânios ou complementos do pão. Os portugueses do interior, sobretudo beirões e transmontanos recorriam á castanha. Durante metade do ano comiam castanha em vez de pão.
Nas casas ricas , onde a culinária era requintada, as ervas de cheiro serviam de ingredientes indispensáveis à preparação das iguarias, como coentros, salsa e hortelã, ao lado de sumos de limão e de agraço, vinagre, de cebola e de pinhões. Cebola e azeite entravam para o tradicional refogado.
Para bem condimentar os alimentos, usavam os portugueses da Idade Média espécies várias de matérias gordas. O azeite, em primeiro lugar mas também a manteiga, o toucinho e a banha de porco ou de vaca.
O tempero básico era, naturalmente, o sal também usado para a conservação dos alimentos.
As chamadas viandas de leite estão sempre presentes, isto é, queijo, nata, manteiga e doces feitos à base de lacticínios. O leite consumia-se em muito fraca quantidade. Na sua maior parte transformava-se em queijo ou manteiga. Servia também como medicamento.
Ovos consumiam-se cozidos, escalfaldos e mexidos.
A fruta desempenhava papel de relevo nas dietas alimentares medievais. Conheciam-se praticamente todas as frutas que comemos hoje. Muitas eram autóctones, outras foram introduzidas pelos árabes. Apenas a laranja doce viria a ser trazida por Vasco da Gama. Certas frutas eram consideradas pouco saudáveis como as cerejas e os pêssegos por os julgarem "vianda húmida". Também o limão se desaconselhava por "muito frio e -agudo". Era uso comer fruta acompanhada de vinho, à laia de refesco ou como refeição ligeira, própria da noite. Da fruta fresca se passava à fruta seca e às conservas e doces de fruta. Fabricavam-se conservas e doces de cidra, pêssego, limão, pera, abóbara e marmelo. ªDe laranja se fazia a famosa flor de laranja, simultaneamente tempero e perfume.
O fabrico de bolos não se encontrava muito desenvolvido. Anteriormente ao século XV, o elevado preço do açúcar obrigava ao uso do mel como único adoçante ao alcance de todas as bolsas.
Havia excepções: fabricavam-se biscoitos de flor de laranja, pasteis de leite e pão de ló, juntamente com os chamados farteis, feitos à base de mel, farinha e especiarias. Com ovos também se produziam alguns doces: canudos e ovos de laçoa.
Contudo, só a partir do Renascimento se desenvolverá a afamada indústria doceira nacional.
Mas a base da alimentação medieval, quanto ao povo miúdo, residia nos cereais e no vinho. Farinha e pão, de trigo, milho ou centeio, e também cevada e aveia, ao lado do vinho, compunham os elementos fundamentais da nutrição medieva. E no campo havia sucedânios para o pão: a castanha ou a bolota, por exemplo.
O número de bebidas era extremamente limitado. Café. chá, chocolate, cerveja, desconheciam-se. À base do vinho e água se matava a sede ou se acompanhavam os alimentos. Bebia-se vinho não só ao natural mas também cozido e temperado com água.
( A.H. Oliveira Marques, in " Sociedade Medieval Portuguesa "- (Livraria Sá da Costa - 3ª edição 1974)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Mamã tigre

Num Jardim Zoológico Sriracha (provincia de Chonburi, a 100 km de Bangcoc) na  Tailândia, em 2010, uma tigre -de- bengala fêmea deu à luz três crias prematuras que morreram devido a varias complicações.
Nos dias seguintes a tigre começou a perder a saúde, embora aparentasse que fisicamente estava bem. 
Os Veterinários desconfiaram que a perda de seus filhotes lhe causou uma depressão.
Pensaram então em colocar um filhote de outra tigre, mas infelizmente, não conseguiram achar filhotes órfãos desta raça na região.
Com imaginação a situação foi resolvida:
Entregando-lhe  filhotes de porco,  ela aceitou prontamente, amamentou-os e a sua saúde começou desde logo a melhorar.
Isto não é de todo estranho pois a tigre, com o nome de Saimai, foi ela própria criada por uma porca, com certeza por isso aceitou os porquinhos como sendo seus.

Os porquinhos usam umas capas com listas mas a única intenção é mante-los quentes segundo os tratadores.